quarta-feira, 13 de maio de 2015



  • Faça a analise sintática das orações destacadas. ( Atividade para entregar) 


Violência epidêmica

“A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora possa acometer indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais, é nos bairros pobres que ela adquire características epidêmicas.
A prevalência varia de um país para outro e entre as cidades de um mesmo país, mas, como regra, começa nos grandes centros urbanos e se dissemina pelo interior. A incidência nem sempre é crescente, mudança de fatores ambientais e medidas mais eficazes de repressão, por exemplo, podem interferir em sua escalada.
As estratégias que as sociedades adotam para combater a violência flutuam ao sabor das emoções, raramente o conhecimento científico sobre o tema é levado em consideração. Como reflexo, a prevenção das causas e o tratamento das pessoas violentas evoluíram muito pouco no decorrer do século 20, ao contrário dos avanços ocorridos no campo das infecções, câncer, diabetes e outras enfermidades.
A agressividade impulsiva é consequência de perturbações nos mecanismos biológicos de controle emocional. Tendências agressivas surgem em indivíduos com dificuldades adaptativas que os tornam despreparados para lidar com as frustrações de seus desejos.
A violência urbana é uma doença com múltiplos fatores de risco, dos quais os mais relevantes são a pobreza e a vulnerabilidade biológica.
Os mais vulneráveis são os que tiveram a personalidade formada num ambiente desfavorável ao desenvolvimento psicológico pleno. A revisão dos estudos científicos já publicados permite identificar três fatores principais na formação das personalidades com maior inclinação ao comportamento violento:
1) Crianças que apanharam, foram abusadas sexualmente, humilhadas ou desprezadas nos primeiros anos de vida.
2) Adolescência vivida em famílias que não lhes transmitiram valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impuseram limites de disciplina.
3) Associação com grupos de jovens portadores de comportamento antissocial.
Na periferia das cidades brasileiras vivem milhões de crianças que se enquadram nessas três condições de risco. Associados à falta de acesso aos recursos materiais, à desigualdade social, à corrupção policial e ao péssimo exemplo de impunidade dado pelos chamados criminosos de colarinho-branco, esses fatores de risco criam o caldo de cultura que alimenta a violência crescente nas cidades.
Na falta de outra 

alternativa, damos à criminalidade a resposta do aprisionamento. Embora pareça haver consenso de que essa seja a medida ideal e de que lugar de bandido é na cadeia, não se pode esquecer que o custo social de tal solução está longe de ser desprezível. Além disso, seu efeito é passageiro: o criminoso fica impedido de delinquir apenas enquanto estiver preso. Ao sair, estará mais pobre, terá rompido laços familiares e sociais e dificilmente encontrará quem lhe dê emprego. Ao mesmo tempo, na prisão, terá criado novas amizades e conexões mais sólidas com o mundo do crime.
Construir cadeias custa caro; administrá-las, mais ainda. Para agravar, obrigados a optar por uma repressão policial mais ativa, aumentaremos o número de prisioneiros a ponto de não conseguirmos edificar prisões na velocidade necessária para albergá-los. As cadeias continuarão superlotadas, e o poder dentro delas, nas mãos dos criminosos organizados.
Seria mais sensato investir o que gastamos com as cadeias em educação, para prevenir a criminalidade e tratar os que ingressaram nela. Mas, como reagir diante da ousadia sem limites dos que fizeram do crime sua profissão sem investir pesado no aparelho repressor e no aprisionamento, mesmo reconhecendo que essa é uma guerra perdida?
Estamos nesse impasse!
Na verdade, não existe solução mágica a curto prazo. Precisamos de uma divisão de renda menos brutal, motivar os policiais a executar sua função com dignidade, criar leis que acabem com a impunidade dos criminosos bem-sucedidos e construir cadeias novas para substituir as velhas, mas isso não resolverá o problema enquanto a fábrica de ladrões colocar em circulação mais criminosos do que nossa capacidade de aprisioná-los.
Só teremos tranquilidade nas ruas quando entendermos que ela depende do envolvimento de cada um de nós na educação das crianças nascidas na periferia do tecido social. O desenvolvimento físico e psicológico das crianças acontece por imitação. Sem nunca ter visto um adulto, ela andará literalmente de quatro pelo resto da vida. Se não estivermos por perto para dar atenção e exemplo de condutas mais dignificantes para esse batalhão de meninos e meninas soltos nas ruas pobres das cidades brasileiras, vai faltar dinheiro para levantar prisões.
Enquanto não aprendemos a educar e oferecer medidas preventivas para que os pais evitem ter filhos que não serão capazes de criar, cabe a nós a responsabilidade de integrá-las na sociedade por meio da educação formal de bom nível, das práticas esportivas e da oportunidade de desenvolvimento artístico."
                                                                                       
VARELLA. Drauzio. In Folha de S.Paulo. 9 mar. 2002.

  • INTERPRETAÇÃO DE TEXTO


1- No texto "Violência epidêmica” afirma-se que nos bairros pobres a violência urbana "adquire características epidêmicas”. Considerando o conceito de epidemia (doença infecciosa que ataca simultaneamente grande número de indivíduos), explique como o autor justifica essa afirmação.

2- Esse texto apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão. Identifique tal divisão.

3- A organização de um texto pode ser observada ao se extrair de cada parágrafo a ideia desenvolvida em cada um. O texto "Violência epidêmica" tem 14 parágrafos. Qual é a ideia principal de cada um?

4- Na introdução, é apresentada a tese, para inteirar o leitor do que será desenvolvido em seguida. Identifique essa tese.

5- Segundo o texto, o conhecimento científico é pouco aplicado na prevenção das causas e no tratamento das pessoas violentas. Qual seria a utilidade desse conhecimento?

6- A enumeração é uma das características do texto dissertativo. Nesse texto de Varella, foi utilizada para apontar as causas pela formação de personalidades com maior inclinação ao comportamento violento. Escreva com suas próprias palavras quais são essas causas.

7- No desenvolvimento, o autor seleciona aspectos que desenvolvem a tese de forma ordenada, evitando detalhes desnecessários e incoerência em relação ao que é afirmado no início. Quais são esses aspectos?

8- Procurando instigar o leitor a refletir, o argumentador de "Violência epidêmica" também recorre ao questionamento do senso comum. Cite o trecho em que ele utiliza esse recurso.
9- O autor é a favor da construção de cadeias novas em substituição às velhas. A partir dessa posição, ele defende o argumento de que "lugar de bandido é na cadeia"? Justifique sua resposta.

10- Referindo-se à criança, Drauzio Varella afirma: "Sem nunca ter visto um adulto, ela andará literalmente de quatro pelo resto da vida". Que conclusão está implícita nessa afirmação?

11- Para defender sua tese de que a violência urbana é epidêmica, o autor recorre a vários argumentos, procurando convencer o leitor. Identifique um trecho em que a argumentação se baseie na relação de causa e consequência.

12- O texto dissertativo procura convidar o leitor a participar de uma discussão. Dê um exemplo, no texto de Drauzio Varella, em que isso pode ser percebido.



13- Na conclusão, o argumentador retoma o que foi dito no início: a violência é uma doença contagiosa. Ele afirma que não existe solução mágica para o problema da violência urbana, portanto é preciso adotar algumas medidas. Quais são elas?