ATIVIDADE- INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
Texto para as questões de 1 a 7.
Há em cada empresa, afeição ou idade um ciclo inteiro da vida humana. O
primeiro número do meu jornal encheu-me a alma de uma vasta aurora, coroou-me
de verduras, restituiu-me a lepidez da mocidade. Seis meses depois batia a hora
da velhice, e daí a duas semanas a da morte, que foi clandestina, como a de
D. Plácida. No dia em que o jornal amanheceu morto, respirei como um
homem que vem de longo caminho. De modo que, se eu disser que a vida humana
nutre de si mesma outras vidas, mais ou menos efêmeras, como o corpo alimenta
os seus parasitas, creio não dizer uma coisa inteiramente absurda. Mas, para
não arriscar essa figura menos nítida e adequada, prefiro uma imagem
astronômica: o homem executa à roda do grande mistério um movimento duplo de
rotação e translação; tem os seus dias, desiguais como os de Júpiter, e
deles compõe o seu ano mais ou menos longo.
No momento em que eu terminava o meu movimento de rotação, concluía Lobo Neves o seu movimento de translação. Morria com o pé na escada ministerial. Cor -reu, ao menos durante algumas semanas, que ele ia ser ministro; e pois que o boato me encheu de muita irritação e inveja, não é impossível que a notícia da morte me deixasse alguma tranquilidade, alívio, e um ou dois minutos de prazer. Prazer é muito, mas é verdade; juro aos séculos que é a pura verdade. Fui ao enterro. Na sala mortuária achei Virgília, ao pé do féretro, a soluçar. Quando levantou a cabeça, vi que chorava deveras. Ao sair o enterro, abraçou-se ao caixão,aflita; vieram tirá-la e levá-la para dentro. [...]
No momento em que eu terminava o meu movimento de rotação, concluía Lobo Neves o seu movimento de translação. Morria com o pé na escada ministerial. Cor -reu, ao menos durante algumas semanas, que ele ia ser ministro; e pois que o boato me encheu de muita irritação e inveja, não é impossível que a notícia da morte me deixasse alguma tranquilidade, alívio, e um ou dois minutos de prazer. Prazer é muito, mas é verdade; juro aos séculos que é a pura verdade. Fui ao enterro. Na sala mortuária achei Virgília, ao pé do féretro, a soluçar. Quando levantou a cabeça, vi que chorava deveras. Ao sair o enterro, abraçou-se ao caixão,aflita; vieram tirá-la e levá-la para dentro. [...]
(Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, cap. CL.)
1. Sobre
o primeiro parágrafo do texto, leia as afirmações seguintes:
I. Tudo na vida do homem está marcado por um ciclo: nascimento,
envelhecimento e morte.
II. Segundo os astrônomos, a vida do ser humano na Terra é comparável à
vida em outros planetas, como Júpiter.
III. O homem, independentemente de seu desejo e escolha, é responsável
pela preservação de vidas alheias, até mesmo de certos parasitas.
Está correto o que se afirma em
a) I e II, apenas. b) I, II e III.
c) II e III, apenas. d) I, apenas.
e) I e III, apenas.
2. “De
modo que, se eu disser que a vida humana nutre de si mesma outras vidas, mais
ou menos efêmeras, como o corpo alimenta os seus parasitas, creio não dizer uma
coisa inteiramente absurda. Mas, para não arriscar essa figura...” – A figura a
que se refere o autor é
a) uma metáfora em que “corpo” substitui “vida humana”.
b) uma comparação entre a existência humana e o corpo humano.
c) uma antítese entre “vida” e “parasitas”.
d) uma prosopopeia (personificação) de corpo (“...o corpo alimenta...”).
e) uma metonímia em que “corpo” (parte) significa “pessoa” (todo).
3. A
expressão “o grande mistério” refere-se
a) a Deus.
b) à vida
. c) à morte.
d) à imortalidade.
e) à reencarnação.
4. “No
momento em que eu terminava o meu movimento de rotação, concluía Lobo Neves o
seu movimento de translação.” – Esse trecho significa que
a) o narrador não saiu do lugar e Lobo Neves partiu para grandes
empreendimentos.
b) se encerrou um episódio da vida do narrador e também a vida de Lobo
Neves.
c) o narrador se manteve solitário durante a vida e Lobo Neves viveu
acompanhado por Virgília (a sua “lua”) e outros familiares e amigos.
d) o narrador era voltado para si e Lobo Neves se movia pelo “grande
mundo” da vida social e política.
e) o narrador não obteve o que queria e Lobo Neves teve uma vida
bem-sucedida, quase chegando a ministro.
5. A
expressão “ao pé do féretro” significa:
a) aos pés do defunto.
b) aos pés do ataúde.
c) no final da procissão do enterro.
d) no exterior da tumba.
e) perto do caixão.
6. Em
“Quando levantou a cabeça, vi que chorava deveras”,a palavra deveras indica que
Virgília chorava
a) de modo dissimulado.
b) verdadeiramente.
c) por obrigação.
d) um pouco.
e) desesperadamente.
7. Assinale
a alternativa cuja locução destacada não possa ser substituída pela palavra
entre parênteses.
a) “...movimento duplo de rotação...” (rotatório)
b) “...os seus dias, desiguais como os de Júpiter,...” (jupiterianos)
c) “...lepidez da mocidade.” (juvenil)
d) ”...notícia da morte...” (mortal)
e) “...um ou dois minutos de prazer.” (prazerosos)
Texto para as questões de 8 a 10.
E o Vento Gerou
Além de praias paradisíacas, o litoral do Nordeste brasileiro foi
agraciado com um outro dom: muito vento em condições propícias para a geração
de energia elétrica. O potencial eólico do Brasil é de cerca de 140 gigawatts,
11 vezes maior que a potência instalada da usina de Itaipu (12 GW). No entanto,
esse potencial está mais do que subutilizado: a potência de todo o parque de
turbinas eólicas no país não chega a 25 MW. Para se ter uma ideia, a Alemanha,
líder mundial na produção de energia eólica, tem atualmente um parque com mais
de 13 GW instalados – 500 vezes maior que o brasileiro. Essa situação está
começando a mudar: foram inauguradas em janeiro três turbinas eólicas na praia
de Soledade, no município de Macau, Rio Grande do Norte. Juntas, elas vão gerar
1,8 MW – eletricidade suficiente para abastecer uma cidade de 10 mil
habitantes. Essa produção atenderá o consumo dos poços de petróleo de
quatro campos explorados pela Petrobras na região. A entrada em operação
desse parque eólico representa a economia anual de 33 milhões de metros cúbicos
de água dos reservatórios da região Nordeste. Esse volume deixará de ser usado
em usinas hidrelétricas, o que torna o uso da energia eólica especialmente
proveitoso no Nordeste: os períodos em que o vento é mais frequente são aqueles
em que não chove, ou seja, o nível dos reservatórios de água está baixo. Mas
trata-se sobretudo de uma forma limpa de energia, renovável e com baixíssimo
impacto ambiental. Por isso ela tem sido estudada pelo Centro de Pesquisas da
Petrobras (Cenpes), que investiga a melhor maneira de adequar a tecnologia de
produção de energia eólica às condições brasileiras. O primeiro passo foi
identificar regiões com bom potencial eólico próximas a áreas de atuação
da Petrobras. Em seguida, os técnicos instalaram torres de Resolução medição e
coleta de dados ambientais equipadas com sensores que medem, a cada segundo, a
velocidade e a direção dos ventos, bem como a temperatura, a umidade e a
pressão atmosférica do local. Ao fim de um ano de medições, esses dados
permitiram prever a quantidade de energia elétrica que seria gerada por um
parque eólico na região, bem como sua viabilidade econômica. O trabalho dos
pesquisadores da Petrobras não para aí. Eles precisaram ainda estudar a melhor
maneira de injetar a energia gerada na rede elétrica à qual as turbinas eólicas
serão ligadas, o que é um desafio: como o vento sopra de forma inconstante, a
potência elétrica gerada pelas turbinas também é variável, o que poderia causar
flutuações na tensão da rede elétrica do local de instalação, o que exige que o
projeto do parque eólico seja feito de forma criteriosa de modo a evitar essas
flutuações.
A instalação das turbinas eólicas em Macau representa só o passo
inaugural da Petrobras na exploração dessa fonte renovável de energia. A
instalação de mais dois parques eólicos, com 3 MW cada, já está prevista, no
Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, e só aguarda a conclusão dos
licenciamentos ambientais.
(Revista Superinteressante)
8. Considere
o texto e assinale a alternativa correta.
a) A Alemanha possui o maior potencial eólico do mundo, sendo líder mundial
na produção desse tipo de energia.
b) A fim de atender ao consumo de uma cidade com 10 mil habitantes, três
turbinas eólicas foram instaladas na praia de Soledade, no município de Macau,
Rio Grande do Norte.
c) O Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) investiga um modo de
utilizar a energia eólica sem causar grande impacto ambiental.
d) A energia eólica é invariável, por isso são necessárias pesquisas que
permitam descobrir a melhor maneira de injetá-la em uma rede elétrica local que
apresente tensão flutuante.
e) No Brasil, a utilização dos ventos na produção de energia elétrica
apresenta um potencial gerador 11 vezes maior que o da usina de Itaipu.
9. Analise
as seguintes afirmativas sobre a exploração da energia eólica no Nordeste
brasileiro.
I. É uma região em que há considerável quantidade de vento em boas
condições de gerar energia elétrica.
II. A utilização de parques eólicos representa uma economia de água em
seus reservatórios hidrelétricos.
III. Os períodos de maior frequência de vento são aqueles em que lá não
chove e os reservatórios de água das usinas hidrelétricas estão com baixos
níveis.
IV. Há subutilização do seu potencial eólico em relação a outras regiões
do País.
Está correto o que se afirma apenas em
a) I, II e III. b) II, III e IV. c) I, III e IV.
d) I, II e IV. e) II e III.
10. Qual o desafio
enfrentado pelos pesquisadores ao injetarem a energia eólica em uma rede
elétrica local?
a) Para analisar a viabilidade da instalação de turbinas, leva-se um ano
na medição e coleta de dados sobre os ventos da região.
b) O projeto do parque deve ser criterioso, a fim de evitar as
flutuações produzidas pela rede elétrica local, prejudiciais à geração de
energia nas turbinas eólicas.
c) É indispensável encontrar uma localidade próxima das áreas de atuação
da Petrobras que apresente condições propícias à produção de energia por meio
do vento.
d) A potência gerada pelas turbinas eólicas é inconstante;
consequentemente, pode haver oscilações na tensão da rede elétrica próxima.
e) Ainda são necessários estudos sobre a obtenção de energia elétrica
empregando o vento como recurso.
Texto para as questões de 11 a 14.
E anunciaram que numa manhã apareceria o primeiro bonde elétrico.
Indicaram-me a atual Avenida São João como o local por onde transitaria o
veículo espantoso. [...] Naquele dia de estreia ninguém pagava passagem, era de
graça. A afluência tornou-se, portanto, enorme. No centro agitado, eu desci a
Ladeira de São João, que não era ainda a Avenida de hoje. Fiquei na esquina da
Rua Líbero Badaró, olhando para o largo de São Bento, de onde devia sair a
maravilha mecânica. [...]
(Oswald de Andrade)
11. Nesse contexto, a
palavra afluência significa
a) afluxo, concorrência.
b) atrapalhação, confusão.
c) aflição, tribulação.
d) abundância, quantidade.
e) afobação, correria.
12. Em qual
alternativa a forma verbal destacada designa um fato passado indicado como
concluído?
a) “Indicaram-me a atual Avenida São João...”
b) “Naquele dia de estreia ninguém pagava passagem,...”
c) “... era de graça.”
d) “...a Ladeira de São João, que não era ainda a Avenida de hoje.”
e) “...de onde devia sair a maravilha mecânica.”
13. As formas verbais
anunciaram e transitaria foram empregadas no texto, respectivamente, para
a) designar um fato concluído no passado e indicar um fato que, no
passado, era dado como futuro.
b) referir-se a um fato momentâneo, não totalmente concluído no passado,
e exprimir a dúvida sobre sua realidade no presente.
c) indicar ação durativa no momento presente e designar algo que se
pretende ver realizado no presente.
d) exprimir um fato repetido no passado e indicar, no presente, a
consequência do ato praticado.
e) enunciar uma incerteza sobre um fato passado e referir-se a projeções
hipotéticas de ações futuras.
14. Assinale a única
alternativa em que o adjetivo destacado
tem função sintática diferente da dos demais.
a) “E anunciaram que numa manhã apareceria o primeiro
bonde elétrico.”
b) “...por onde transitaria o veículo espantoso.”
c) “No centro agitado, eu desci a Ladeira de São
João,...”
d) “...de onde devia sair a maravilha mecânica.”
e) “A afluência tornou-se, portanto, enorme.”
Texto para a questão 15.
A praça de armas e o principal hospital de Pisco se transformaram em
necrotérios abertos, já que o prédio do necrotério da cidade desabou após o
tremor.
(Correio Popular, 20/8/2007)
15. Só não se mantém o
sentido acima em:
a) A praça de armas e o principal hospital de Pisco foram transformados
em necrotérios abertos, uma vez que o prédio do necrotério da cidade desabou
após o tremor.
b) A praça de armas e o principal hospital de Pisco se transformaram em
necrotérios abertos, assim que o prédio do necrotério da cidade desabou após o
tremor.
c) A praça de armas e o principal hospital de Pisco tornaram-se
necrotérios abertos, porque o prédio do necrotério da cidade desabou após o
tremor.
d) Como o prédio do necrotério desabou após o tremor, a praça de armas e
o principal hospital de Pisco converteram-se em necrotérios abertos.
e) A praça de armas e o principal hospital de Pisco foram convertidos em
necrotérios abertos, visto que o prédio do necrotério da cidade desabou após o
tremor.
Texto para as questões 16 e 17.
A laranjeira não existe para dar laranja, existe para produzir e
espalhar sua própria semente. A fruta não é o objetivo da planta frutífera, é o
que ela usa para carregar suas sementes, é o seu estratagema. Agradecer à
laranjeira pela laranja é não entendê-la. Ela não sabe do que nós estamos
falando. Suco? Doçura? Vitamina C? Eu?! Você e eu ficamos aí especulando sobre
o que a vida quer de nós, e só o que a vida quer é continuar. Seja em nós e na
nossa prole, seja na minhoca e na sua. Nossa missão, nossa explicação, é a
mesma do rinoceronte e da anêmona. Estamos aqui para fazer outros iguais a nós.
Isto que chamamos, carinhosamente, de “eu”, com suas peculiaridades e sua
biografia única, não é mais do que uma laranja personalizada. Um estratagema da
Natureza, a polpa com que a Natureza protege a nossa semente e assim assegura a
continuação da vida. Enfim, um grande mal-entendido. E os que passam pelo mundo
sem se reproduzir? São caronas. Ganham o brinde mesmo sem merecer o pacote. A
Natureza não discrimina.
(Luís Fernando Verissimo, trecho de “Nossa Missão”, crônica publicada em
O Estado de S. Paulo)
16. Há, no texto,
analogia entre uma laranja e
a) os genes responsáveis pela transmissão das características
hereditárias.
b) a individualidade humana, conjunto das particularidades de um
elemento em relação à sua espécie.
c) a evolução da transmissão de características genéticas.
d) a vida, cujo objetivo é assegurar sua própria continuidade.
e) o estratagema da Natureza para eliminar frutos improdutivos e
resguardar a vida.
17. Considere as
seguintes afirmações sobre o texto:
I. Acreditar que a vida tem um propósito especial para cada indivíduo é
o “grande mal-entendido” a que se refere o autor no final do texto.
II. Perante a Natureza, o que torna o ser humano superior às demais
espécies é a consciência de si mesmo, a busca de um objetivo para sua
existência e a capacidade de questionamento diante da vida.
III. A palavra brinde, no texto, significa “dádiva” e refere-se à vida
de que usufruímos mesmo sem cumprir mos nosso papel reprodutivo.
Está correto apenas o que se afirma em
a) I.
b) II. c) I e
II. d) I
e III. e) II e III.
Texto para as questões de 18 a 20.
CONSOADA
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável)
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria ou diga:
— Alô, Iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer
(A noite com seus sortilégios).
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta
Com cada coisa em seu lugar.
(Manuel Bandeira)
Vocabulário
Consoada: refeição noturna leve e pequena, sem carne, que se faz em
dia de jejum. Como particípio do verbo consoar, pode significar também música
harmoniosa ou adequação, conformidade.
Caroável: amável, afável, gentil, carinhoso, afetuoso, meigo.
Iniludível: que não deixa ou admite dúvida, que não se pode iludir, que
não se pode induzir em erro ou engano, que não se pode burlar ou lograr;
evidente.
18. O eu lírico
manifesta
a) medo de morrer.
b) desejo de viver até que seu trabalho esteja concluído.
c) crença numa outra vida após a morte.
d) desconformidade com a morte, cuja chegada deseja adiar.
e) desejo de uma morte harmoniosa.
19. No poema
“Consoada”, o eu lírico
I. usa os termos indesejada e iniludível para se referir à morte.
II. aceita a morte como inevitável e a compara com a noite.
III. acha a vida perigosa como a noite, cheia de sortilégios.
Está correto o que se afirma em
a) I apenas. b) I, II e III.
c) I e II apenas. d) I e III apenas.
e) II e III apenas.
20. O trecho que não
apresenta linguagem figurada é:
a) “Talvez eu tenha medo.”
b) “A mesa posta...”
c) “Com cada coisa em seu lugar.”
d) “...pode a noite descer...”
e) “O meu dia foi bom,...”
Texto para as questões 21 e 22.
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
21. O texto
apresentado é parte do poema “Navio Negreiro”, de Castro Alves, no qual se
narra quão desumano era o transporte de escravos negros em navios. A quem o
poeta se dirige por meio do pronome tu?
a) Aos escravos.
b) À bandeira do Brasil.
c) À luz do sol.
d) À brisa do Brasil.
e) À esperança de liberdade.
22. Os poetas costumam
selecionar as palavras levando em conta significado, sonoridade, forma,
capacidade de suscitar imagens etc. Substitua a palavra balança (no segundo
verso do texto) por movimenta. De que maneira essa alteração pode interferir no
poema? Observe as seguintes alternativas e assinale a incorreta.
a) Altera-se a estrutura formal do texto.
b) Conserva-se a intensidade sonora.
c) Interrompe-se o esquema de rimas.
d) Perde-se a regularidade métrica.
e) Mantém-se o conteúdo, mas compromete-se o resultado artístico.
Texto para as questões 23 e 24.
A imagem da sinapse, palavra que na origem grega indica a ideia de unir
– apresentada em bioquímica como o canal de transmissão de impulsos entre as
células nervosas –, lembra a própria condição atual da educação. Num mercado de
trabalho que exige uma atitude cada vez mais criativa dos profissionais,
aprender é muito mais do que memorizar dados ou usar novas tecnologias. É saber
unir as informações relevantes, produzindo conhecimento por meio dessa
associação de impulsos. As tecnologias que aumentam cada vez mais a velocidade
da transmissão de dados sugerem também uma realidade social e cultural próxima
do ritmo dos impulsos cerebrais. Nesse contexto, são necessários não apenas
novos modelos de atuação profissional, mas também novas empresas e novas escolas.
Já não se trata apenas de administrar conteúdos testados em provas ou atestados
por diplomas. É crucial a busca permanente de novas competências e o exercício
de inteligências múltiplas. Ganhou evidência nos últimos anos o capital humano,
como diferencial de competitividade de empresas e países. A gestão do
conhecimento tornou-se imperativa num mundo que muda o tempo todo. Enfrentar a
necessidade do aprendizado permanente é reconhecer que se está, na escola ou no
trabalho, sempre no limiar da desinformação e da desrazão. Esse é o paradoxo
maior da sociedade da informação, que, ao colocar em circulação tantos dados e
opiniões, muitas vezes acaba por produzir maior confusão.
(Folha de S.Paulo, 22/7/2002, editorial)
Vocabulário
relevante: importante
crucial: fundamental, decisivo, essencial
limiar: entrada, início
23. Aponte a
alternativa que formule uma conclusão a que se pode chegar com base no texto
acima.
a) Como demonstra o exemplo da sinapse, a bioquímica deve ser tomada
como modelo para a educação.
b) A função básica da escola é criar competitividade e exercitar
inteligências múltiplas, para atender ao mercado de trabalho.
c) A educação, atualmente, exige o uso da mais avançada tecnologia, pois
é necessário atingir a velocidade dos impulsos cerebrais.
d) Ensinar a aprender deve ser função essencial da educação, num mundo
que exige atualização permanente e capacidades múltiplas.
e) Na escola ou no trabalho, deve-se evitar a confusão da informação
excessiva e da circulação descontrolada de dados e opiniões.
24. “...palavra...
apresentada em bioquímica como o canal de transmissão de impulsos entre as células
nervosas —,...” — Qual das alternativas seguintes apresenta uma redação mais
precisa para essa frase?
a) Palavra criada em bioquímica para o canal de transmissão de impulsos
entre as células nervosas.
b) Palavra considerada em bioquímica como o canal de transmissão de
impulsos entre as células nervosas.
c) Palavra empregada em bioquímica para designar o canal de transmissão
de impulsos entre as células nervosas.
d) Palavra introduzida em bioquímica para a transmissão de impulsos
entre as células nervosas.
e) Palavra que foi apresentada em bioquímica para canalizar a
transmissão de impulsos entre as células nervosas.
Texto para as questões de 25 a 31.
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta?
Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os
pelos cantos escuros da cozinha, sobre a velha esteira e trapos imundos. Sempre
escondida, que a patroa não gostava de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos
padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo no céu. Entaladas as
banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava,
recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma
virtuosa senhora em suma – “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião
e da moral”, dizia o reverendo. Ótima, a Dona Inácia. Mas não admitia choro de
criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a
calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da
carne alheia. Assim, mal vagia [chorava], longe, na cozinha, a triste criança,
gritava logo nervosa:
— Quem é a peste que está chorando aí?
Quem havia de ser? A pia de lavar pratos? O pilão? O forno? A mãe da
criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela para os fundos do
quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões de desespero.
— Cale a boca, diabo!
No entanto, aquele choro nunca vinha sem razão. Fome quase sempre, ou
frio, desses que entanguem [tornam duros de frio] pés e mãos e fazem-nos
doer... Assim cresceu Negrinha – magra, atrofiada, com os olhos eternamente
assustados. Órfã aos quatro anos, por
ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés.
(...)
A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha
da escravidão, fora senhora de escravos – e daquelas ferozes, amigas de ouvir
cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se fizera ao regime novo – essa
indecência de negro igual a branco e qualquer coisinha: a polícia! “Qualquer
coisinha”: uma mucama assada ao forno porque se engraçou dela o senhor; uma
novena de relho [chicote] porque disse: “Como é ruim, a sinhá...” O 13 de maio
tirou-lhe das mãos o azorrague [chicote], mas não lhe tirou da alma a gana.
Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Inocente derivativo.
— Ai! Como alivia a gente uma boa roda de croques [cascudos] bem
fincados!...
(Monteiro Lobato, Negrinha)
25. Entre os recursos
expressivos empregados no texto, destaca-se a
a) intertextualidade, que consiste na retomada e reelabora ção de outros
textos.
b) prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas,
atribuindo-lhes vida.
c) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria
linguagem.
d) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio
e objetivo.
e) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com
intenção crítica.
26. No trecho “uma
mucama assada ao forno porque se engraçou dela o senhor”, a palavra porque
estabelece uma relação de causalidade, introduzindo uma oração que indica a
causa da anterior. Dos seguintes trechos, extraídos do texto de Monteiro
Lobato, identifique o que apresenta esse mesmo tipo de relação:
a) “Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os
pelos cantos escuros da cozinha (...)”
b) “Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.”
c) “(...) recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o
tempo.”
d) “Vinha da escravidão, fora senhora de escravos (...)”
e) “O 13 de maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da
alma a gana.”
27. Considerando-se o
texto, é incorreto afirmar que a personagem Dona Inácia
a) aliviava seus frenesis batendo em Negrinha; por isso mantinha a
menina em casa.
b) se identificava com o regime escravista, não considerando certo os
negros terem os mesmos direitos dos brancos.
c) castigava cruelmente seus escravos durante a escravidão e, mesmo com
a abolição, não perdeu a agressividade.
d) era irônica, pois considerava como “qualquer coisinha” assar uma
mucama ao forno, mas no íntimo condenava essa atitude.
e) era uma mulher rica e poderosa, gozava de prestígio social e era bem
considerada pelos padres.
28. Em “Assim, mal
vagia, longe, na cozinha, a triste criança, gritava logo nervosa”, a palavra
logo tem o mesmo sentido da empregada em:
a) Na classe, sentava-se logo após o amigo.
b) Penso, logo existo.
c) Disse logo o que veio fazer.
d) Não tenho dinheiro, logo não posso viajar.
e) Logo em quem ele foi confiar!
29. O texto é
narrativo-descritivo, porque, além de contar uma história, contém trechos que
caracterizam as personagens. Assinale a alternativa que apresenta trecho
narrativo:
a) “Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos
assustados.”
b) “Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na
igreja...”
c) “Viúva sem filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne,...”
d) “A mãe da criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com
ela...”
e) “Assim cresceu Negrinha — magra, atrofiada, com os olhos eternamente
assustados.”
30. Em “mal vagia”, o
advérbio de tempo mal pode ser substituído, sem prejuízo de sentido, por:
a) assim que. b) antes que. c) desde que.
d) provavelmente. e) certamente.
31. “A mãe da
criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela para os fundos do
quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões de desespero.”
Com base no texto e no trecho dado, o comportamento da mãe se justifica
porque
a) ela era tão má quanto Dona Inácia.
b) temia as represálias de Dona Inácia.
c) não gostava da menina, que só lhe trazia problemas.
d) precisava repreender a filha, que era mal-educada.
e) era castigada por ser escrava e, por isso, descontava na filha.
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