terça-feira, 2 de setembro de 2014



ATIVIDADE- INTERPRETAÇÃO DE TEXTO


Texto para as questões de 1 a 7.


          Há em cada empresa, afeição ou idade um ciclo inteiro da vida humana. O primeiro número do meu jornal encheu-me a alma de uma vasta aurora, coroou-me de verduras, restituiu-me a lepidez da mocidade. Seis meses depois batia a hora da velhice, e daí a duas semanas a da morte, que foi clandestina, como a de D.  Plácida. No dia em que o jornal amanheceu morto, respirei como um homem que vem de longo caminho. De modo que, se eu disser que a vida humana nutre de si mesma outras vidas, mais ou menos efêmeras, como o corpo alimenta os seus parasitas, creio não dizer uma coisa inteiramente absurda. Mas, para não arriscar essa figura menos nítida e adequada, prefiro uma imagem astronômica: o homem executa à roda do grande mistério um movimento duplo de rotação e translação; tem os seus dias, desiguais como os de Júpiter, e deles  compõe o seu ano mais ou menos longo.

       No momento em que eu terminava o meu movimento de rotação, concluía Lobo  Neves o seu movimento de translação. Morria com o pé na escada ministerial. Cor -reu, ao menos durante algumas semanas, que ele ia ser ministro; e pois que o boato me encheu de muita irritação e inveja, não é impossível que a notícia da morte me deixasse alguma tranquilidade, alívio, e um ou dois minutos de prazer. Prazer é muito, mas é verdade; juro aos séculos que é a pura verdade. Fui ao enterro. Na sala mortuária achei Virgília, ao pé do féretro, a soluçar. Quando levantou a cabeça, vi que chorava deveras. Ao sair o enterro, abraçou-se ao caixão,aflita; vieram tirá-la e levá-la para dentro. [...]
(Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, cap. CL.)

1.       Sobre o primeiro parágrafo do texto, leia as afirmações seguintes:
I. Tudo na vida do homem está marcado por um ciclo: nascimento, envelhecimento e morte.
II. Segundo os astrônomos, a vida do ser humano na Terra é comparável à vida em outros planetas, como Júpiter.
III. O homem, independentemente de seu desejo e escolha, é responsável pela preservação de vidas alheias, até mesmo de certos parasitas.
Está correto o que se afirma em
a) I e II, apenas. b) I, II e III.
c) II e III, apenas. d) I, apenas.
e) I e III, apenas.

2.       “De modo que, se eu disser que a vida humana nutre de si mesma outras vidas, mais ou menos efêmeras, como o corpo alimenta os seus parasitas, creio não dizer uma coisa inteiramente absurda. Mas, para não arriscar essa figura...” – A figura a que se refere o autor é
a) uma metáfora em que “corpo” substitui “vida humana”.
b) uma comparação entre a existência humana e o corpo humano.
c) uma antítese entre “vida” e “parasitas”.
d) uma prosopopeia (personificação) de corpo (“...o corpo alimenta...”).
e) uma metonímia em que “corpo” (parte) significa “pessoa” (todo).

3.       A expressão “o grande mistério” refere-se
a) a Deus.
 b) à vida
. c) à morte.
d) à imortalidade.
 e) à reencarnação.


4.       “No momento em que eu terminava o meu movimento de rotação, concluía Lobo Neves o seu movimento de translação.” – Esse trecho significa que
a) o narrador não saiu do lugar e Lobo Neves partiu para grandes empreendimentos.
b) se encerrou um episódio da vida do narrador e também a vida de Lobo Neves.
c) o narrador se manteve solitário durante a vida e Lobo Neves viveu acompanhado por Virgília (a sua “lua”) e outros familiares e amigos.
d) o narrador era voltado para si e Lobo Neves se movia pelo “grande mundo” da vida social e política.
e) o narrador não obteve o que queria e Lobo Neves teve uma vida bem-sucedida, quase chegando a ministro.

5.       A expressão “ao pé do féretro” significa:
a) aos pés do defunto.
b) aos pés do ataúde.
c) no final da procissão do enterro.
d) no exterior da tumba.
e) perto do caixão.

6.       Em “Quando levantou a cabeça, vi que chorava deveras”,a palavra deveras indica que Virgília chorava
a) de modo dissimulado.
 b) verdadeiramente.
c) por obrigação.
 d) um pouco.
e) desesperadamente.

7.       Assinale a alternativa cuja locução destacada não possa ser substituída pela palavra entre parênteses.
a) “...movimento duplo de rotação...” (rotatório)
b) “...os seus dias, desiguais como os de Júpiter,...” (jupiterianos)
c) “...lepidez da mocidade.” (juvenil)
d) ”...notícia da morte...” (mortal)
e) “...um ou dois minutos de prazer.” (prazerosos)

Texto para as questões de 8 a 10.

E o Vento Gerou
Além de praias paradisíacas, o litoral do Nordeste brasileiro foi agraciado com um outro dom: muito vento em condições propícias para a geração de energia elétrica. O potencial eólico do Brasil é de cerca de 140 gigawatts, 11 vezes maior que a potência instalada da usina de Itaipu (12 GW). No entanto, esse potencial está mais do que subutilizado: a potência de todo o parque de turbinas eólicas no país não chega a 25 MW. Para se ter uma ideia, a Alemanha, líder mundial na produção de energia eólica, tem atualmente um parque com mais de 13 GW instalados – 500 vezes maior que o brasileiro. Essa situação está começando a mudar: foram inauguradas em janeiro três turbinas eólicas na praia de Soledade, no município de Macau, Rio Grande do Norte. Juntas, elas vão gerar 1,8 MW – eletricidade suficiente para abastecer uma cidade de 10 mil habitantes. Essa produção atenderá o consumo dos poços de petróleo de
quatro campos explorados pela Petrobras na região. A entrada em operação desse parque eólico representa a economia anual de 33 milhões de metros cúbicos de água dos reservatórios da região Nordeste. Esse volume deixará de ser usado em usinas hidrelétricas, o que torna o uso da energia eólica especialmente proveitoso no Nordeste: os períodos em que o vento é mais frequente são aqueles em que não chove, ou seja, o nível dos reservatórios de água está baixo. Mas trata-se sobretudo de uma forma limpa de energia, renovável e com baixíssimo impacto ambiental. Por isso ela tem sido estudada pelo Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), que investiga a melhor maneira de adequar a tecnologia de produção de energia eólica às condições brasileiras. O primeiro passo foi identificar regiões com bom potencial eólico próximas a áreas de atuação  da Petrobras. Em seguida, os técnicos instalaram torres de Resolução medição e coleta de dados ambientais equipadas com sensores que medem, a cada segundo, a velocidade e a direção dos ventos, bem como a temperatura, a umidade e a pressão atmosférica do local. Ao fim de um ano de medições, esses dados permitiram prever a quantidade de energia elétrica que seria gerada por um parque eólico na região, bem como sua viabilidade econômica. O trabalho dos pesquisadores da Petrobras não para aí. Eles precisaram ainda estudar a melhor maneira de injetar a energia gerada na rede elétrica à qual as turbinas eólicas serão ligadas, o que é um desafio: como o vento sopra de forma inconstante, a potência elétrica gerada pelas turbinas também é variável, o que poderia causar flutuações na tensão da rede elétrica do local de instalação, o que exige que o projeto do parque eólico seja feito de forma criteriosa de modo a evitar essas flutuações.
A instalação das turbinas eólicas em Macau representa só o passo inaugural da Petrobras na exploração dessa fonte renovável de energia. A instalação de mais dois parques eólicos, com 3 MW cada, já está prevista, no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, e só aguarda a conclusão dos licenciamentos ambientais.
(Revista Superinteressante)

8.       Considere o texto e assinale a alternativa correta.
a) A Alemanha possui o maior potencial eólico do mundo, sendo líder mundial na produção desse tipo de energia.
b) A fim de atender ao consumo de uma cidade com 10 mil habitantes, três turbinas eólicas foram instaladas na praia de Soledade, no município de Macau, Rio Grande do Norte.
c) O Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) investiga um modo de utilizar a energia eólica sem causar grande impacto ambiental.
d) A energia eólica é invariável, por isso são necessárias pesquisas que permitam descobrir a melhor maneira de injetá-la em uma rede elétrica local que apresente tensão flutuante.
e) No Brasil, a utilização dos ventos na produção de energia elétrica apresenta um potencial gerador 11 vezes maior que o da usina de Itaipu.

9.       Analise as seguintes afirmativas sobre a exploração da energia eólica no Nordeste brasileiro.
I. É uma região em que há considerável quantidade de vento em boas condições de gerar energia elétrica.
II. A utilização de parques eólicos representa uma economia de água em seus reservatórios hidrelétricos.
III. Os períodos de maior frequência de vento são aqueles em que lá não chove e os reservatórios de água das usinas hidrelétricas estão com baixos níveis.
IV. Há subutilização do seu potencial eólico em relação a outras regiões do País.
Está correto o que se afirma apenas em
a) I, II e III. b) II, III e IV. c) I, III e IV.
d) I, II e IV. e) II e III.

10.   Qual o desafio enfrentado pelos pesquisadores ao injetarem a energia eólica em uma rede elétrica local?
a) Para analisar a viabilidade da instalação de turbinas, leva-se um ano na medição e coleta de dados sobre os ventos da região.
b) O projeto do parque deve ser criterioso, a fim de evitar as flutuações produzidas pela rede elétrica local, prejudiciais à geração de energia nas turbinas eólicas.
c) É indispensável encontrar uma localidade próxima das áreas de atuação da Petrobras que apresente condições propícias à produção de energia por meio do vento.
d) A potência gerada pelas turbinas eólicas é inconstante; consequentemente, pode haver oscilações na tensão da rede elétrica próxima.
e) Ainda são necessários estudos sobre a obtenção de energia elétrica empregando o vento como recurso.

Texto para as questões de 11 a 14.

E anunciaram que numa manhã apareceria o primeiro bonde elétrico. Indicaram-me a atual Avenida São João como o local por onde transitaria o veículo espantoso. [...] Naquele dia de estreia ninguém pagava passagem, era de graça. A afluência tornou-se, portanto, enorme. No centro agitado, eu desci a Ladeira de São João, que não era ainda a Avenida de hoje. Fiquei na esquina da Rua Líbero Badaró, olhando para o largo de São Bento, de onde devia sair a maravilha mecânica. [...]
(Oswald de Andrade)

11.   Nesse contexto, a palavra afluência significa
a) afluxo, concorrência.
b) atrapalhação, confusão.
c) aflição, tribulação.
d) abundância, quantidade.
e) afobação, correria.

12.   Em qual alternativa a forma verbal destacada designa um fato passado indicado como concluído?
a) “Indicaram-me a atual Avenida São João...”
b) “Naquele dia de estreia ninguém pagava passagem,...”
c) “... era de graça.”
d) “...a Ladeira de São João, que não era ainda a Avenida de hoje.”
e) “...de onde devia sair a maravilha mecânica.”

13.   As formas verbais anunciaram e transitaria foram empregadas no texto, respectivamente, para
a) designar um fato concluído no passado e indicar um fato que, no passado, era dado como futuro.
b) referir-se a um fato momentâneo, não totalmente concluído no passado, e exprimir a dúvida sobre sua realidade no presente.
c) indicar ação durativa no momento presente e designar algo que se pretende ver realizado no presente.
d) exprimir um fato repetido no passado e indicar, no presente, a consequência do ato praticado.
e) enunciar uma incerteza sobre um fato passado e referir-se a projeções hipotéticas de ações futuras.

14.   Assinale a única alternativa em que o adjetivo destacado
tem função sintática diferente da dos demais.
a) “E anunciaram que numa manhã apareceria o primeiro
bonde elétrico.”
b) “...por onde transitaria o veículo espantoso.”
c) “No centro agitado, eu desci a Ladeira de São
João,...”
d) “...de onde devia sair a maravilha mecânica.”
e) “A afluência tornou-se, portanto, enorme.”

Texto para a questão 15.

A praça de armas e o principal hospital de Pisco se transformaram em necrotérios abertos, já que o prédio do necrotério da cidade desabou após o tremor.
(Correio Popular, 20/8/2007)

15.   Só não se mantém o sentido acima em:
a) A praça de armas e o principal hospital de Pisco foram transformados em necrotérios abertos, uma vez que o prédio do necrotério da cidade desabou após o tremor.
b) A praça de armas e o principal hospital de Pisco se transformaram em necrotérios abertos, assim que o prédio do necrotério da cidade desabou após o tremor.
c) A praça de armas e o principal hospital de Pisco tornaram-se necrotérios abertos, porque o prédio do necrotério da cidade desabou após o tremor.
d) Como o prédio do necrotério desabou após o tremor, a praça de armas e o principal hospital de Pisco converteram-se em necrotérios abertos.
e) A praça de armas e o principal hospital de Pisco foram convertidos em necrotérios abertos, visto que o prédio do necrotério da cidade desabou após o tremor.

Texto para as questões 16 e 17.

A laranjeira não existe para dar laranja, existe para produzir e espalhar sua própria semente. A fruta não é o objetivo da planta frutífera, é o que ela usa para carregar suas sementes, é o seu estratagema. Agradecer à laranjeira pela laranja é não entendê-la. Ela não sabe do que nós estamos falando. Suco? Doçura? Vitamina C? Eu?! Você e eu ficamos aí especulando sobre o que a vida quer de nós, e só o que a vida quer é continuar. Seja em nós e na nossa prole, seja na minhoca e na sua. Nossa missão, nossa explicação, é a mesma do rinoceronte e da anêmona. Estamos aqui para fazer outros iguais a nós. Isto que chamamos, carinhosamente, de “eu”, com suas peculiaridades e sua biografia única, não é mais do que uma laranja personalizada. Um estratagema da Natureza, a polpa com que a Natureza protege a nossa semente e assim assegura a continuação da vida. Enfim, um grande mal-entendido. E os que passam pelo mundo sem se reproduzir? São caronas. Ganham o brinde mesmo sem merecer o pacote. A Natureza não discrimina.
(Luís Fernando Verissimo, trecho de “Nossa Missão”, crônica publicada em O Estado de S. Paulo)

16.   Há, no texto, analogia entre uma laranja e
a) os genes responsáveis pela transmissão das características hereditárias.
b) a individualidade humana, conjunto das particularidades de um elemento em relação à sua espécie.
c) a evolução da transmissão de características genéticas.
d) a vida, cujo objetivo é assegurar sua própria continuidade.
e) o estratagema da Natureza para eliminar frutos improdutivos e resguardar a vida.

17.   Considere as seguintes afirmações sobre o texto:
I. Acreditar que a vida tem um propósito especial para cada indivíduo é o “grande mal-entendido” a que se refere o autor no final do texto.
II. Perante a Natureza, o que torna o ser humano superior às demais espécies é a consciência de si mesmo, a busca de um objetivo para sua existência e a capacidade de questionamento diante da vida.
III. A palavra brinde, no texto, significa “dádiva” e refere-se à vida de que usufruímos mesmo sem cumprir mos nosso papel reprodutivo.
Está correto apenas o que se afirma em
a)     I.      b) II.     c) I e II.      d) I e III.      e) II e III.

Texto para as questões de 18 a 20.

CONSOADA
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável)
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria ou diga:
— Alô, Iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer
(A noite com seus sortilégios).
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta
Com cada coisa em seu lugar.
(Manuel Bandeira)
Vocabulário
Consoada: refeição noturna leve e pequena, sem carne, que se faz em
dia de jejum. Como particípio do verbo consoar, pode significar também música harmoniosa ou adequação, conformidade.
Caroável: amável, afável, gentil, carinhoso, afetuoso, meigo.
Iniludível: que não deixa ou admite dúvida, que não se pode iludir, que não se pode induzir em erro ou engano, que não se pode burlar ou lograr; evidente.

18.   O eu lírico manifesta
a) medo de morrer.
b) desejo de viver até que seu trabalho esteja concluído.
c) crença numa outra vida após a morte.
d) desconformidade com a morte, cuja chegada deseja adiar.
e) desejo de uma morte harmoniosa.

19.   No poema “Consoada”, o eu lírico
I. usa os termos indesejada e iniludível para se referir à morte.
II. aceita a morte como inevitável e a compara com a noite.
III. acha a vida perigosa como a noite, cheia de sortilégios.
Está correto o que se afirma em
a) I apenas. b) I, II e III.
c) I e II apenas. d) I e III apenas.
e) II e III apenas.

20.   O trecho que não apresenta linguagem figurada é:
a) “Talvez eu tenha medo.”
b) “A mesa posta...”
c) “Com cada coisa em seu lugar.”
d) “...pode a noite descer...”
e) “O meu dia foi bom,...”

Texto para as questões 21 e 22.

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

21.   O texto apresentado é parte do poema “Navio Negreiro”, de Castro Alves, no qual se narra quão desumano era o transporte de escravos negros em navios. A quem o poeta se dirige por meio do pronome tu?
a) Aos escravos.
b) À bandeira do Brasil.
c) À luz do sol.
d) À brisa do Brasil.
e) À esperança de liberdade.

22.   Os poetas costumam selecionar as palavras levando em conta significado, sonoridade, forma, capacidade de suscitar imagens etc. Substitua a palavra balança (no segundo verso do texto) por movimenta. De que maneira essa alteração pode interferir no poema? Observe as seguintes alternativas e assinale a incorreta.
a) Altera-se a estrutura formal do texto.
b) Conserva-se a intensidade sonora.
c) Interrompe-se o esquema de rimas.
d) Perde-se a regularidade métrica.
e) Mantém-se o conteúdo, mas compromete-se o resultado artístico.

Texto para as questões 23 e 24.

A imagem da sinapse, palavra que na origem grega indica a ideia de unir – apresentada em bioquímica como o canal de transmissão de impulsos entre as células nervosas –, lembra a própria condição atual da educação. Num mercado de trabalho que exige uma atitude cada vez mais criativa dos profissionais, aprender é muito mais do que memorizar dados ou usar novas tecnologias. É saber unir as informações relevantes, produzindo conhecimento por meio dessa associação de impulsos. As tecnologias que aumentam cada vez mais a velocidade da transmissão de dados sugerem também uma realidade social e cultural próxima do ritmo dos impulsos cerebrais. Nesse contexto, são necessários não apenas novos modelos de atuação profissional, mas também novas empresas e novas escolas. Já não se trata apenas de administrar conteúdos testados em provas ou atestados por diplomas. É crucial a busca permanente de novas competências e o exercício de inteligências múltiplas. Ganhou evidência nos últimos anos o capital humano, como diferencial de competitividade de empresas e países. A gestão do conhecimento tornou-se imperativa num mundo que muda o tempo todo. Enfrentar a necessidade do aprendizado permanente é reconhecer que se está, na escola ou no trabalho, sempre no limiar da desinformação e da desrazão. Esse é o paradoxo maior da sociedade da informação, que, ao colocar em circulação tantos dados e opiniões, muitas vezes acaba por produzir maior confusão.
(Folha de S.Paulo, 22/7/2002, editorial)

Vocabulário
relevante: importante          
crucial: fundamental, decisivo, essencial
limiar: entrada, início

23.   Aponte a alternativa que formule uma conclusão a que se pode chegar com base no texto acima.
a) Como demonstra o exemplo da sinapse, a bioquímica deve ser tomada como modelo para a educação.
b) A função básica da escola é criar competitividade e exercitar inteligências múltiplas, para atender ao mercado de trabalho.
c) A educação, atualmente, exige o uso da mais avançada tecnologia, pois é necessário atingir a velocidade dos impulsos cerebrais.
d) Ensinar a aprender deve ser função essencial da educação, num mundo que exige atualização permanente e capacidades múltiplas.
e) Na escola ou no trabalho, deve-se evitar a confusão da informação excessiva e da circulação descontrolada de dados e opiniões.

24.   “...palavra... apresentada em bioquímica como o canal de transmissão de impulsos entre as células nervosas —,...” — Qual das alternativas seguintes apresenta uma redação mais precisa para essa frase?
a) Palavra criada em bioquímica para o canal de transmissão de impulsos entre as células nervosas.
b) Palavra considerada em bioquímica como o canal de transmissão de impulsos entre as células nervosas.
c) Palavra empregada em bioquímica para designar o canal de transmissão de impulsos entre as células nervosas.
d) Palavra introduzida em bioquímica para a transmissão de impulsos entre as células nervosas.
e) Palavra que foi apresentada em bioquímica para canalizar a transmissão de impulsos entre as células nervosas.

Texto para as questões de 25 a 31.

Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta?
Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre a velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma – “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo. Ótima, a Dona Inácia. Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da carne alheia. Assim, mal vagia [chorava], longe, na cozinha, a triste criança, gritava logo nervosa:
— Quem é a peste que está chorando aí?
Quem havia de ser? A pia de lavar pratos? O pilão? O forno? A mãe da criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões de desespero.
— Cale a boca, diabo!
No entanto, aquele choro nunca vinha sem razão. Fome quase sempre, ou frio, desses que entanguem [tornam duros de frio] pés e mãos e fazem-nos doer... Assim cresceu Negrinha – magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados. Órfã aos quatro anos, por
ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés.
(...)
A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos – e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se fizera ao regime novo – essa indecência de negro igual a branco e qualquer coisinha: a polícia! “Qualquer coisinha”: uma mucama assada ao forno porque se engraçou dela o senhor; uma novena de relho [chicote] porque disse: “Como é ruim, a sinhá...” O 13 de maio tirou-lhe das mãos o azorrague [chicote], mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Inocente derivativo.
— Ai! Como alivia a gente uma boa roda de croques [cascudos] bem fincados!...
(Monteiro Lobato, Negrinha)
25.   Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a
a) intertextualidade, que consiste na retomada e reelabora ção de outros textos.
b) prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas, atribuindo-lhes vida.
c) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria linguagem.
d) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio e objetivo.
e) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com intenção crítica.

26.   No trecho “uma mucama assada ao forno porque se engraçou dela o senhor”, a palavra porque estabelece uma relação de causalidade, introduzindo uma oração que indica a causa da anterior. Dos seguintes trechos, extraídos do texto de Monteiro Lobato, identifique o que apresenta esse mesmo tipo de relação:
a) “Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha (...)”
b) “Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.”
c) “(...) recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo.”
d) “Vinha da escravidão, fora senhora de escravos (...)”
e) “O 13 de maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana.”

27.   Considerando-se o texto, é incorreto afirmar que a personagem Dona Inácia
a) aliviava seus frenesis batendo em Negrinha; por isso mantinha a menina em casa.
b) se identificava com o regime escravista, não considerando certo os negros terem os mesmos direitos dos brancos.
c) castigava cruelmente seus escravos durante a escravidão e, mesmo com a abolição, não perdeu a agressividade.
d) era irônica, pois considerava como “qualquer coisinha” assar uma mucama ao forno, mas no íntimo condenava essa atitude.
e) era uma mulher rica e poderosa, gozava de prestígio social e era bem considerada pelos padres.

28.   Em “Assim, mal vagia, longe, na cozinha, a triste criança, gritava logo nervosa”, a palavra logo tem o mesmo sentido da empregada em:
a) Na classe, sentava-se logo após o amigo.
b) Penso, logo existo.
c) Disse logo o que veio fazer.
d) Não tenho dinheiro, logo não posso viajar.
e) Logo em quem ele foi confiar!

29.   O texto é narrativo-descritivo, porque, além de contar uma história, contém trechos que caracterizam as personagens. Assinale a alternativa que apresenta trecho narrativo:
a) “Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados.”
b) “Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja...”
c) “Viúva sem filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne,...”
d) “A mãe da criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela...”
e) “Assim cresceu Negrinha — magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados.”

30.   Em “mal vagia”, o advérbio de tempo mal pode ser substituído, sem prejuízo de sentido, por:
a) assim que. b) antes que. c) desde que.
d) provavelmente. e) certamente.

31.   “A mãe da criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões de desespero.”
Com base no texto e no trecho dado, o comportamento da mãe se justifica porque
a) ela era tão má quanto Dona Inácia.
b) temia as represálias de Dona Inácia.
c) não gostava da menina, que só lhe trazia problemas.
d) precisava repreender a filha, que era mal-educada.
e) era castigada por ser escrava e, por isso, descontava na filha.









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